Na Rua Sacopã número 250, em meio à densa mata do Parque da Catacumba, Zona Sul do Rio, existe um símbolo de afirmação da cultura negra, de resistência à especulação imobiliária, um reduto do samba e das tradições africanas: lá, vive a família Pinto, que chegou ao local em 1929, e é formada hoje por 28 pessoas, todas descendentes de um quilombo do século XIX.
Depois de uma longa luta para legalização do terreno, iniciada em 1970, o RGI (Registro Geral de Imóveis), documento que oficializa a propriedade do imóvel, foi concedido em 29 de novembro de 2024. Uma vitória histórica, celebrada com muita feijoada (sempre no segundo sábado do mês) e rodas de samba. A partir de agora, o espaço pode ser alugado para festas de aniversário, casamentos, bodas e batizados.
José Luiz, o quilombola comanda o espaço da família
“Foi um período duríssimo até a regularização do terreno”, conta o quilombola e músico José Luiz Pinto Júnior, de 83 anos, que ficou à frente de todo o processo.
“Tenho mais de 20 cartas de imobiliárias, inúmeras histórias de brutalidades contra a gente, casos e mais casos de preconceito de vizinhos, incomodados pelo fato de existir um quilombo numa área tão nobre da Zona Sul. Contra tudo e contra todos, legalizamos toda a papelada e agora fazemos do lugar um polo de divulgação da nossa cultura. É contando a história e trazendo as pessoas para perto que conseguimos vencer preconceitos”, explica José Luiz.
Rô (à esquerda) é quem ajuda na administração do Quilombo
Com sua nora, Rô Garces, ajudando na administração do espaço, José Luiz compôs uma programação intensa para o Quilombo. Neste sábado, 12/04, além da famosa Feijoada do Quilombo, prata da casa, feita no forno a lenha e criada por Tia Neném, já falecida, haverá o Samba Sacopã com Fernando Del Papa e abertura de Chorinho com Samba do 12, no horário de 14h às 22h. No dia 18/04, acontece a roda do Samba que Elas Querem e no Dia de São Jorge, em 23/04, a feijoada marca novamente presença ao som do grupo Samba Faz o Bem. Dia 26/04 também terá samba no Quilombo, e 27/04 uma roda de conversa intitulada “Caminhando com Elas”.
O Samba do 12 se apresenta com frequência no Quilombo
“Temos 18 mil metros quadrados de terreno de vegetação preservada, menos de mil metros quadrados de área construída. Não queremos mudar isso. Sou o irmão caçula de uma família de nove filhos. Fui o único que estudou e graças a isso pude lutar e ter conhecimento para salvar nosso quilombo. É possível sobreviver — e até ser feliz — neste país sendo preto e pobre”, comemora José Luiz.
Quilombo Sacopã – Rua Sacopã 250 | Lagoa | Informações: 21 98883-2787 (Rô)
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