26 de janeiro de 2024

HORA DE DIZER ADEUS AO BLOCO DA PRACINHA

E lá se vão 17 anos de Bloco da Pracinha, bloco de carnaval que nasceu em um dia de verão de 2006, na Praça Pio XI. Neste tempo de pracinha passaram muitos parceiros, vi minha filha, suas amigas e outras crianças da vizinhança crescerem e seguirem outros blocos, Faz parte. E agora tá na hora de dizer Adeus. O Bloco da Pracinha faz seu último ‘concentra, mas não sai”, no próximo sábado, dia 3/2. Tá na hora de parar e abrir espaço para outros blocos infantis bacanas. E vai ser lindo, porque vamos ter campanha de arrecadação de alimentos e produtos de limpeza para a ONG Rolé Solidário e a oficina do Gato Mia, parceira desde o primeiro bloco, vai ajudar as crianças a fazer e customizar chocalhos com garrafas de pets. Aproveito para agradecer a parceria desta banda maravilhosa, formada por Clarice Maciel (surdo), Lélia Campos (teclado, ukulelê e sanfona) Guga Spíndola (sax), Marcos da Silva (trompete) e Shanso Araújo (trombone).

Tudo começou quando eu, Angela Tostes e Tereza Nabuco mais algumas mães, trocavamos ideias sobre o que fazer com as crianças no carnaval. Apesar de animadas com a folia, tínhamos receio de encarar, com a prole, os blocos do Rio, sempre cheios. Até que alguém começou a lembrar do carnaval de antigamente, em uma praça perto de casa e aos poucos, foi surgindo a ideia de fazer uma bagunça para a criançada na pracinha.

Barbara Lau e a banda que veio para ficar!

Aos poucos o bloquinho foi surgindo com o convite para a bateria mirim do Santa Marta participar, Tereza, figurinista da TV Globo, deu a ideia de criar, junto com a vizinha e arte educadora Rosa Geszti, uma oficina de customização de fantasia. Andrea Bacellar, do Gato Mia, que morava na região na época, se uniu ao grupo e Angela trouxe os palhaços do Circo Pionzinho. E foi assim que no dia 21 de fevereiro de 2006, o Bloco da Pracinha pediu passagem e ocupou a Pio XI, com tranquilidade. Sem aglomeração, as crianças curtiam os instrumentos que a turma do Santa Marta trouxe para a praça. De um lado, montamos um varal onde colocamos alguns adereços de outros carnavais para motivar um troca-troca de fantasia. Os palhaços, que já eram parceiros do Sebinho deram colorido à festa, animando a petizada. E nossas filhas, incluindo a minha, Carol, cresceu aprendendo a gostar de carnaval e a reunir os amigos no Bloco da Pracinha.

Desde então, minha rotina momesca começa em janeiro atrás de patrocínio e com a vaquinha para o bloco mais infantil do carnaval carioca. Aos poucos a formação original foi se despedindo e mudando de bloco, movimento natural, já que as crianças também Com a entrada de algumas amiguinhas de Carol na Sá Pereira, acabou rolando um racha natural entre as mães, que seguiram para outros blocos.

A turma da primeira edição reunida para a foto oficial

Dos parceiros que o Bloco me trouxe, teve o pessoal do Meleka de Jacaré, com Úrsula e no comando; os queridos Wellington e Negueba com as Meninas do Nós, que arrasavam na percussão e faziam um super espetáculo cênico. Teve Bruno Conde, eterno palhaço Rebola, que já com sua própria trupe, o Circo Macaco Prego, fez algumas edições de carnaval, até que chegou Barbara Lau. Minha amiga de outras praças, ela foi um dia ver o Bloco e acabou fazendo uma participação especial. Depois fez outra e a química com as crianças foi tão especial, que ela foi ficando e montando um repertório que eu sempre sonhei totalmente voltado para o público infantil. Junto com Barbara veio uma banda que é puro talento e alegria, uma galera unida que só acrescenta ao Bloco da Pracinha. Importante também reconhecer o apoio do Mercado Afonso Celso e do Belmonte, que estão desde o começo dando todo apoio para viabilizar a festa. Novos parceiros surgiram ao longo deste tempo, como a Escola Nova, o supermercado Zona Sul, o Ibeu, a Drogaria Venâncio e este ano, o Colégio pH que está entrando na brincadeira e a padaria Grano e Farino. E todos que contribuem anualmente na vakinha, cada um ajudando com um pouquinho que soma um montão. Bonito de ver.

Não tem palco, não tem coreografia e nem salamaleques. Só crianças e familiares pulando carnaval, como antigamente. Bonito de ver o pessoal participando, chegando com suas crias fantasiadas, ajudando com a vaquinha para viabilizar o bloco e ainda dando bronca em quem ainda insiste em comprar espuma. Aproveito para explicar a proibição: simplesmente não é legal, incomoda o amiguinho do lado que não gosta, é tóxica (cheia de química) e não tem utilidade… Por isso eu peço aos pais que não comprem.

Crianças em contato com os instrumentos!

Na verdade, o sonho de consumo era que o bloco fosse anticonsumo. Não lembro dos meus pais preocupados em comprar coisas para me agradar, o grande presente era estar ali, dançando, jogando confete e serpentina. E nada mais. Mas…outros tempos, outras gerações. Sigo tentando tornar o bloco mais sustentável e menos consumista. E até os ambulantes, que no começo eram um problema, porque chegavam de mala, cuia e familiares para ocupar a praça com seus brinquedos e balões, já entenderam que cada um tem seu espaço e todos podem participar. Hoje, quando chego na praça, eles já estão organizados em volta do parquinho.

Tudo é uma grande produção, que muitas vezes cansa e sem retorno financeiro. O que é arrecadado paga os músicos, o som, a decoração. Todo ano eu digo que vai ser o último, afinal a minha pequena Carolina, que cresceu no Bloco da Pracinha, já partiu para outros blocos. Mas com o bloco eu aprendi a curtir o carnaval, e me divirto muito vendo as crianças brincarem, acompanhando os filhos dos amigos crescendo me realizando com todo aquele evento que eu ajudei a fazer. E quando vem aquela sensação de dever cumprido, de prazer. Só que o tempo está passando e está chegando a hora de acabar com a brincadeira … de verdade.

O desfile e a paradinha da banda na rua JB são o ponto alto da festa!