26 de outubro de 2023
UMA AMIZADE QUE DEU SAMBA

Imagine um grupo de amigos que se conheceu no ensino médio e, 40 anos depois, mantém aquele elo fraternal, que se estende entre filhos e acompanhantes. E como cereja do bolo, decidiram criar um bloco de carnaval, que virou uma sensação na Zona Sul carioca, dando a eles mais motivos para seguir a música como hobby, em pequenos encontros que acontecem no Jardim Botânico e arredores.  Esta é o fio condutor do documentário “Samba com amor – 25 anos de Último Gole”, idealizado pelo coletivo folião.

Christiana e Luis ficaram à frente do projeto  

O projeto era uma ideia antiga da roteirista Christiana Albuquerque, que assina sua primeira direção, e conta com produção executiva de Luis Felippe de Alvarenga Netto, um dos músicos, também conhecido como “Bronquinha”. “Como trabalho com documentários, sempre tive vontade de fazer este registro do grupo, mas foi no carnaval de 2022, depois de um show em Angra, que decidimos seguir em frente. É um documentário afetivo,  feito com pouca verba e a muito amor”, conta a diretora.

O grupo reunido depois da exibição do filme

Amor. A palavra (e o sentimento) rege este grupo, e mesmo quem conhece pouco, como eu, percebe. A constatação veio ao assistir o documentário em uma sessão para amigos, no NET Gávea, no final de agosto, em uma manhã de sábado com a sala lotada. Sentada ali, fiquei observando o movimento da turma recebendo amigos e parentes antes da projeção e parecia aquelas apresentações de escola.  Depois, me emocionei com as imagens do filme que legitima a amizade desta trupe parceira durante décadas e que se estendeu para suas famílias. Coisa bonita e rara de se ver. O que acontece na maioria das vezes é que a vida vai nos levando para outras direções e o contato com amigos do colegial fica restrito a datas especiais. No caso da turma do UG, eles inverteram a ordem e fincaram suas raízes, passando este legado às  novas gerações que bebem desta fonte fraternal, todos ligados no samba bom que papai e mamãe fazem. 

O filme, com seus registros antigos, promove uma doce viagem no tempo, especialmente para  quem mora no JB, no trecho entre Parque Lage e a rua Faro e acompanhou o início desta história foliã. A gente vai assistindo e acionando os gatilhos. São muitas emoções, bicho.  Mas não se anime não, caro leitor, porque o filme ainda não tem previsão de entrar em circuito. 

Um dos primeiros UG na Pio XI

Lembro que o meu primeiro UG foi no carnaval de 2004, quando chegamos na Praça Pio XI.  Ainda não conhecia Carlinhos, que viria a se tornar meu parceiro de festa junina, anos depois.  Aliás, para ser mais exata, o primeiro contato com ele foi uma ligação, para entrevista-lo sobre o bloco para o JBemF.  Trabalhando toda a psicologia que aprendeu na faculdade e “sendo Carlinhos”,  ele educadamente declinou de qualquer divulgação e explicou que a ideia do grupo era não chamar a atenção e fazer algo mais reservado. Acabou a conversa me convidando para aparecer lá no dia, uma terça-feira gorda, último dia “oficial” de carnaval. Chegamos por volta das 20h e na memória me vem um grupo sentado perto do parquinho, tocando e cantando, sem amplificador, com outros em volta e não chegava a 40 pessoas. “É o paraíso”, pensei. Ficamos ali, ouvindo e tomando uma cerveja enquanto Carol e umas amiguinhas brincavam. 

Depois de três anos passando carnaval fora do Rio voltei ao bloco e levei um susto.  Os quase 40 tinham virado centenas de pessoas lotando a praça, que já tinha uma outra estrutura. Depois, achei graça da minha surpresa, pois só eu tinha falado com uns cinco amigos sobre “o “bloco escondido, com pouca gente”, e pedido para não avisar mais ninguém. Certamente aquele cenário era resultado do boca a boca de vários. 

O UG cresceu e ficou pequeno para a pracinha, indo atrás de outros palcos. Mas mesmo na Lagoa – e agora na Gávea – eles não abandonaram a essência intimista e seguem fazendo pequenos encontros, que acontecem vez ou outra, no Mercadinho Afonso Celso e agora também no Quilombo Sacopã, mas com pouca divulgação.

Quando a pracinha ficou pequena para o UG 

O meu primeiro encontro oficial com o UG aconteceu nos 10 anos do JB em Folhas, em 2013, quando fizemos o Cinema na Pracinha com filmes de samba e convidamos o grupo para fazer uma participação. E foi lindo!! Quem foi levou as cadeirinhas de praia para acompanhar a roda que ocupava o centro da praça, com todo mundo em volta, cantando. Na época, o bloco estava completando 15 anos e eu já conhecia mais alguns integrantes por conta da vizinhança e da profissão.

Parceiros na festa dos 10 anos do JBemF 

Os anos vão passando e cada vez mais eu admiro essa comunidade chamada Último Gole. Uma amizade que deu samba e inspira todos os que acompanham seus batuques. Por isso, foi natural pensar neles nas comemorações dos 20 anos do JBemF. E nesta sexta, quando os músicos, acompanhados de suas pastoras, e crias, estiverem se apresentando no Parque Lage e comemorando seu um quarto de século, eu vou aproveitar para agradecer (mais uma vez), por morar neste bairro verde, de vizinhos musicais e especiais. E cantar o refrão do samba que eles fizeram este ano:  “o samba só vale ser feito com amor”.

Axé, Último Gole!! Vida longa!

 

0 comentários

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Artigos relacionados