10 de novembro de 2022
UMA JOIA DA ARQUITETURA MODERNA NO JB

O condomínio residencial Antonio Ceppas, na rua Benjamim Batista, é um dos mais conhecidos e desejados do Jardim Botânico. Em estilo modernista, o prédio tem assinatura de arquiteto e há anos faz parte do imaginário de muita gente, como a cantora e compositora Katia B, moradora do prédio há 27 anos, e Fernanda Medeiros, que tem Pós-doc em Literatura e se mudou para lá há apenas três meses.

O prédio foi projetado em 1946 pelo arquiteto Jorge Machado Moreira, sob influência de edifícios residenciais modernos, como o Parque Guinle. A construção do bloco com seis pavimentos e quatro apartamentos por andar aconteceu de 1950 a 1952. O edifício possui térreo vazado, elevado sobre pilotis, com área de lazer e jardins desenhados por Burle Marx, autor também de dois painéis decorativos de cerâmica.

O projeto bebeu na fonte de gênios da arquitetura, como o brasileiro Oscar Niemeyer e o suíço Le Corbusier, levando em consideração o clima tropical do Rio de Janeiro. A fachada é definida por uma grelha formada pelas lajes e paredes divisórias, com vãos preenchidos por esquadrias e elementos de proteção solar, como varandas, brises, cobogós e treliças, empregados de maneira criativa e funcional. Cada módulo da fachada correspondente à sala possui fechamento composto por três elementos diferentes: treliça na parte superior, esquadrias em madeira e vidro na parte central e painéis com venezianas de madeira na parte inferior. Os quartos voltados para a rua possuem varandas com fechamentos em treliças de madeira para controle da insolação.

A fim de preservar tais características arquitetônicas, o edifício Antonio Ceppas foi tombado pela Prefeitura do Rio de Janeiro em setembro de 2010. Sendo assim, qualquer intervenção física do imóvel deve ser previamente aprovada pelo Conselho de Proteção do Patrimônio Cultural, a fim de evitar ações que descaracterizem o projeto arquitetônico original.

Segundo Katia B, qualquer alteração desse tipo está fora de cogitação pelos moradores atuais: “Todos têm um grande amor pelo prédio e veem um grande valor no tombamento do imóvel”. Ela lembra que muita gente já passou por lá, onde o clima é sempre amistoso entre os vizinhos, com direito a troca de mantimentos e festas de final de ano no pilotis, com cada um levando uma coisa para celebrar. Ela ainda se lembra de quando procurava um apartamento para alugar com seu namorado na época e visitou a unidade, que estava à venda:

– Fiquei enlouquecida, atraída pela proximidade da floresta e pelo silêncio. Fizemos de tudo para juntar o valor necessário e, no final, não tínhamos dinheiro nem para a pintura do apartamento – recorda ela, que se considera privilegiada por estar dentro da cidade, mas em lugar resguardado.

O humorista Marcelo Madureira morou no edifício Antonio Ceppas de 2008 a 2018 por obra do acaso: “Não estava pensando em me mudar, mas apareceu aquela cobertura fantástica e nos apaixonamos. O que nos atraiu foi o apartamento em si e a convivência com amigos queridos que já viviam lá”, conta Madureira, que acabou trocando de endereço quando os filhos casaram e o apartamento ficou grande.

Novata no condomínio, Fernanda Medeiros já conhecia o edifício e confessa que tinha um “crush” no Ceppas. “Foi sorte total! Comecei a procurar apartamento pra alugar e achava que aqui seria caríssimo. De repente, um link adicional do zap me levou pro link desse apê, que estava com um aluguel viável, possivelmente por ser velhinho. Acho esse prédio muito classudo e o tamanho dos apartamentos é um sonho! São grandes, bem divididos, espaçosos. Os porteiros são educadíssimos, todos. Me senti super bem recebida”, observa a professora de Literatura inglesa da UERJ, sentindo-se uma pessoa de sorte.

O corretor de imóveis Bráulio Ferreira confirma o sentimento de Fernanda. Pela sua experiência, a oferta de apartamentos para comprar ou alugar ali são raras. Ele mesmo teve apenas uma oportunidade de venda do apartamento que pertenceu à jornalista Scarlet Moon: “As pessoas gostam muito dali. Como o prédio é muito visado, os imóveis muitas vezes não chegam nem a ser anunciados. Amigos e vizinhos dos proprietários acabam obtendo a informação antes e indicam a outros amigos”, observa.

*Por Betina Dowsley

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