Quem viveu a infância no Jardim Botânico ou teve filhos ou netos aqui nos últimos 38 anos, com certeza conhece Eliane Munk. Em 1983, precisamente no Dia das Crianças, ela abriu a Roda Pião, na recém-inaugurada galeria comercial da rua Maria Angélica. Quase 40 anos depois, a loja continua oferecendo brinquedos educativos e inteligentes, que fazem a cabeça dos moradores da região.
Nos tempos de colégio, Eliane pensava em estudar psicologia, mas acabou formando-se em Química. Com o casamento e os filhos, a carreira foi deixada de lado, em troca de poder passar mais tempo com as crianças. Criada no Grajaú, a comerciante mora há quase 40 anos no Humaitá:
– Venho de uma família numerosa, morávamos numa casa enorme no Grajaú, onde hoje é uma casa de festas. Quando me mudei para a rua Casuarina, uma das coisas que me atraía era o fato de ser um lugar tranquilo – observa.
A ideia de abrir uma loja de brinquedos veio de sua própria experiência como mãe: “A maioria dos brinquedos naquela época eram de plástico e sem um viés educacional”. Buscando um endereço perto de casa, a nova galeria acabou sendo um fator determinante para a reinvenção de Eliane como comerciante, uma vez que a curta distância entre sua casa e a loja possibilitava que o trajeto fosse feito a pé.
Eliane lembra que, no início, era muito comum os clientes manterem conta na Roda Pião, como nos antigos armazéns do bairro. “O ritmo da vida era menos acelerado, tenho saudades de quando a rua Maria Angélica era tranquila e a galeria era vizinha de muitas casas, como a que virou a Body Tech, que tinha um enorme jardim arborizado”, assinala. A família Guaraná, que morava em uma casa na rua Jardim Botânico, era cliente de sua loja:
– Dona Odete e Seu Fernando frequentavam a Roda Pião diariamente em busca de novidades para seus netos e bisnetos. Houve até uma vez que ela pediu que jogássemos uma bola da garagem do prédio da galeria para o quintal da casa dela para seus netos brincarem, tal era o grau de intimidade – relembra.
Bonecos de pano, fantoches, montanhas-russas de bolinha e carrinhos de blocos nunca saem de moda. Um dos brinquedos mais antigos da loja é o “Patinho na rampa”, feito de madeira, que, assim como as casas de boneca, também tem lugar cativo nas prateleiras. É curioso ver como o interesse por esse tipo de produto continua valendo tanto para os clientes, como para Eliane, que revive cada descoberta agora com seus netos:
– Tenho três netinhos: Benjamin e Dante, de 4 e 3 anos, moram na Tijuca; enquanto o caçulinha Rafael, de um ano, mora em Brasília. Os dois que moram no Rio estão vivendo, atualmente, no interior de Minas Gerais e, depois de um longo período longe, estão passando a semana na casa da vovó. Eles adoram brincar com quebra cabeças e outros brinquedos que estimulam o raciocínio – conta orgulhosa, destacando que, na fase atual, eles só querem saber dos objetos de cozinha, como fogão, panelinhas e comidinhas, tudo de madeira.
Os meninos cariocas adoram correr e estar em contato com a natureza. Com eles, Eliane tem aproveitado as áreas ao ar livre da região, como a Lagoa, o Parque Lage, o Jardim Botânico e a praça Dag Hammarskjöld. Graças aos netos, aliás, ela descobriu, recentemente, o Parque do Martelo, na rua Miguel Pereira, “lugar para um verdadeiro encontro com a natureza, com ou sem crianças”, garante.
A comerciante observou que, com a pandemia, as pessoas passaram a comprar mais pela internet. Nada substitui, porém, a oportunidade de entrar na loja, ver o brinquedo, sua funcionalidade, receber orientação para a idade indicada e levar um brinquedo embrulhado para presente de forma artesanal. “A experiência presencial ainda é muito valorizada”, avisa ela, que, nesses novos tempos, passou a usar o WhatsApp como ferramenta de vendas.
– Nosso atendimento é bastante personalizado. Tem gente que diz a idade da criança que quer presentear e fazemos indicações com fotos e até vídeos, além de entregas, claro! Trabalhamos com brinquedos para diversas faixas etárias, inclusive com desafios para a terceira idade – destaca.
Parte da clientela da loja envelheceu, mas, segundo Eliane, não para se renovar. Há muita criança que pede para ir à Roda Pião e muitos pais que gostam de levar os filhos para passar o tempo livre na simpática lojinha de brinquedos, onde é possível pegar, mexer e brincar com tudo, com todo cuidado, claro!
– Aquela criança que vinha com os pais agora vem escolher presentes para seus filhos. Assim como alguns pais viraram avós e ainda frequentam a loja. É muito gratificante acompanhar essa renovação – conclui Eliane, para quem o segredo para um comércio local ativo e longevo é o amor.
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