4 de agosto de 2023
VIDA LIVRE, UM ESPAÇO PARA A FAUNA CHAMAR DE SUA

Foto: Rafael Guerra

“Não consigo lembrar uma época da minha vida em que eu não tive alguma relação com bichos”. Assim, Roched Seba, 37 anos, idealizador e diretor do Instituto Vida Livre, começa a entrevista para o JB em Folhas dentro da sede da instituição, no Horto, que ele abriu especialmente para receber a equipe do jornal. Ele explica que gosta da relação dos animais com a cidade, mas, apesar de ter cuidado de alguns pets quando criança, não tem mais este convívio. “Acho uma escravidão”, confessa.

Sorte dos animais, que ganharam um superprotetor, que é uma referência no Rio de Janeiro. O então jovem, descendente de libaneses, chegou a se formar em publicidade, mas não exerceu. Enquanto a maioria dos amigos da faculdade estava correndo atrás de uma vaga em agências ou grandes empresas, ele decidiu ser voluntário do zoológico de Niterói – cidade onde nasceu – e mudou o rumo da sua história.

– Naquele momento eu tive o estalo de que queria trabalhar com este universo, – conta ele, que fez mestrado em Engenharia de Produção na Coppe – UFRJ, onde estudou os serviços de gestão de fauna silvestre no contexto da cidade.  Foi o ponto de partida para a criação do Instituto Vida Livre (IVL), uma Organização não-governamental brasileira, que trabalha há oito anos na reabilitação e soltura de animais em situação de risco, no Rio de Janeiro, além de realizar resgates voluntários em diversas localidades.

O Instituto começou bem, tendo o cantor Ney Matogrosso como primeiro padrinho.  “Uma amiga em comum me apresentou ao Ney em 2014 e foi com ele que iniciamos nosso primeiro trabalho”, lembra o diretor.  E assim, em março de 2015, o IVL iniciou suas operações, com a criação da Área de Soltura de Animais Silvestres – ASAS Vida Livre Serra do Matogrosso em Saquarema-RJ, soltando um gavião caboclo. Desde então a instituição vem fazendo um trabalho exemplar no acolhimento da fauna silvestre. Atualmente a ONG conta com sete áreas de soltura, sendo uma delas no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, através de um acordo de cooperação técnica, no qual o Instituto recebe animais do parque para cuidar.

Atuando em todo Rio de Janeiro, o Vida Livre se vira nos 30 para se manter e tem feito boas parcerias. Uma das benfeitoras é a diretora da ArtRio, Brenda Valansi, que também é dona de uma das áreas de soltura e abriu espaço dentro do evento para o IVL participar, parceria que se repete este ano. O Festival “Doce Maravilha”, que acontecerá na Marina da Glória na próxima semana, vai destinar uma parte da renda para a organização. E quem quiser ajudar é só fazer um PIX: 15234307000124. Qualquer doação é bem-vinda!

E de parceria em parceria, Roched conseguiu, em 2018, alugar a sede no Horto que foi reformada com ajuda do coletivo, através de crowdfunding e doações voluntárias. O projeto é assinado pela arquiteta Bel Lobo, enquanto a Tok & Stok doou parte dos móveis. “Queria algo diferente, que não ficasse nem com um aspecto muito técnico, nem com um aspecto infantil, que é comum em locais que trabalham com animais e a Bel foi perfeita”, explica Roched.

A sede funciona como um centro de reabilitação para animais silvestres e tem como objetivo principal o atendimento gratuito para que eles tenham condições de retornar à vida livre. Mensalmente o IVL recebe uma média de 100 animais silvestres, que chegam de todos os lugares, inclusive de órgãos públicos como o Corpo de Bombeiros e a Secretaria de Meio Ambiente.  Mas é bom saber que a instituição não tem serviço de resgate e não pode receber todas as espécies. O mico-estrela, por exemplo, é uma espécie invasora, e por isso, a ONG não tem autorização para tratá-la. O protocolo a ser seguido é ligar para o 1746, da Prefeitura, que providenciará o recolhimento. Há também um certo rigor no recebimento e um protocolo específico de encaminhamento de aves, por conta dos casos de gripe aviária. O atendimento é gratuito e mantido através de doações.

Marcelinho perdeu o braço numa rede elétrica

Até hoje, Roched se espanta com a curiosidade de quem procura o Instituto para visitar, achando que é um zoológico e se esquecem que é um ambiente com animais em tratamento, com doenças circulando. Por conta disso, todo o staff tem acompanhamento médico e toma vacinas. Para ele é uma questão de virar a chave: “Se os pacientes daqui fossem pessoas, seria o lugar mais triste do mundo. Temos idosas que foram golpeadas na cabeça, uma senhora que pegou fogo, crianças mutiladas por brincar nos fios, criança refugiada porque a mãe morreu, etc.”, diz, fazendo referência aos bichos internados, como os macacos que perderam os braços em rede elétrica da Light e à jibóia Santinha, que foi recolhida no Alto da Boa Vista, em 2022, com a cabeça quebrada. O prognóstico da cobra era dos piores, mas, após seis meses de tratamento, ela deverá ser solta em breve (em uma área mais segura). O processo de recuperação do animal foi documentado e acompanhado nas redes sociais do Vida Livre e trouxe um bom retorno. “Ouvi relatos de pessoas que tinham medo ou não gostavam de cobras e, após conhecer a história da Santinha, mudaram de opinião. Teve até família que parou de matar cobras em sítios, por exemplo”, lembra ele.

Apesar da popularidade e solidariedade, o IVL tem uma necessidade constante de captar recursos, justamente por não ter um retorno financeiro garantido. A equipe é formada por 13 pessoas mais os voluntários: “Eu gostaria que o Instituto fosse vazio e nenhum animal estivesse precisando de ajuda, para podermos focar somente em monitorar a fauna. Querendo ou não, o surgimento disso aqui é resultado de um colapso ecológico, maus tratos humanos e tráfico.”, lamenta.

Para o futuro, a principal meta é dar continuidade ao trabalho do Vida Livre e captar recursos para abrir o viveiro do JBRJ, que está com o projeto pronto também assinado por Bel Lobo, mas ainda sem verba para tirá-lo do papel.  Também estão nos planos acordos de cooperação técnica com outros órgãos, como a Prefeitura e o Museu Nacional, entre outros. “Sou fascinado por museus e colaborar com eles faz meu olho brilhar”, sonha Roched, que acha importante focar na biodiversidade urbana.

“Falta a conscientização de que a cidade não é um espaço só de pessoas, mas também de outras criaturas. Falam do Pantanal, da Amazônia, mas nós estamos inseridos dentro da Mata Atlântica, que é um bioma enorme e muito ameaçado. É importante que as pessoas estejam cientes do impacto que têm nesse ambiente”.

IMPORTANTE:

O Instituto Vida Livre…

  • Não tem serviço de resgate
  • Não tem autorização para tratar de mico-estrela.
  • Para recolhimento de animais, tem que ligar para 1746
  • Não está aceitando aves
  • Não é aberto à visitação
  • Recebe mensagens apenas pelo Instagram
  • Frutas
  • Legumes
  • Verdura
  • Ovos
  • Leite NAN s/lactose
  • Ração Canina Golden p/ filhote
  • Aceitam doações | PIX 15234307000124
  • Gaze
  • Algodão
  • Esparadrapo
  • Clorexidine
  • Rifocina
  • Simeticona
  • ENAX (🙏🏻🙏🏻)
  • Legalon
  • Marbopet
  • Água Sanitaria
  • Virkon
  • Pano de chao

 

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