Parte do charme do Jardim Botânico se dá pela mistura entre natureza, edifícios modernos, casario antigo e locais históricos que marcaram gerações de moradores. Um desses locais é o Condomínio Esporte Clube.
A história do Clube Condomínio está ligada à fábrica Carioca e, a partir de 1920, à América Fabril, que atuou no bairro até a década de 1960. De acordo com a pesquisadora e escritora do livro “Histórias do Jardim Botânico – um recanto proletário na zona sul carioca”, Luciene Carris, o lugar não foi sempre conhecido como Condomínio. Primeiro, havia o Clube Musical Carioca, demolido em 1930. No local, os operários construíram o Pintacuda, em 1936, que logo depois foi renomeado para Clube Panamericano, que, por fim, se tornou Condomínio Esporte Clube.
O dono do Condomínio era Luigi Chicarino, mais conhecido como Seu Lili, também proprietário de um bar na esquina da rua Abreu Fialho com a rua Pacheco Leão. Porém, segundo a pesquisadora, “muitos moradores da vila operária construíram o clube com as próprias mãos, então ele faz parte da memória desses moradores e da história da região”, afirma Luciene. Gerson Simões, do Bazar Gonzo, é uma dessas pessoas. Apesar de atualmente não frequentar mais o Clube, Gerson chegou a ser Diretor Administrativo do lugar, cerca de 10 anos atrás. Ele foi convidado a assumir o posto por ser um dos sócios mais antigos: o número de matrícula registrado em sua carteira de associado era o 72.
Gerson Simões guarda boas lembranças da infância no Horto
Gerson mora no Jardim Botânico há 70 anos, pois sua mãe trabalhava na fábrica e tinha direito a uma casa na vila operária. Ele relembra com carinho da juventude: “graças a Deus eu peguei essa época, por que quem não pegou, coitado, não sabe de nada!”, brinca.
Para ele, o Clube Condomínio era um lugar de diversão, de ir a bailes e jogar bola – além dessas atividades, havia aulas de costura, ginástica, vôlei e futebol para meninas. Inclusive, foi jogando futebol no Condomínio que um olheiro do Bonsucesso Futebol Clube o convidou para participar de uma seleção para o time, proposta recusada por Gerson, que “preferia a brincadeira a jogar bola de verdade”. Hoje, ele reconhece que o Clube Condomínio possibilitou “uma infância maravilhosa”, repleta de histórias e momentos inesquecíveis.
Atualmente o clube vive do aluguel do campo de futebol society
Por cerca de 50 anos, o carnaval marcou a programação social do Clube Condomínio. Nas décadas de 1960 e 1970, os bailes reuniam pessoas de todas as classes sociais do Jardim Botânico, refletindo a história do lugar. A tradição carnavalesca chegou até os anos 2000, quando os bailes deram lugar aos ensaios de dois dos blocos mais famosos do Rio: Suvaco do Cristo, no final dos anos 1980, e Monobloco, em 2001 e 2002. Em ambos os casos, a fama acabou forçando os blocos a buscarem espaços maiores para seus ensaios.
Lenine, apresentando o samba do Suvaco do Cristo (Foto: Silvana Louzada)
Nem só de carnaval, porém, viveu o Clube: os festejos juninos também foram importantes! Inicialmente o arraial era organizado pelos moradores do entorno, mas o Clube abrigou também a Festa Junina produzida por parte da turma que fundou o Suvaco. Em entrevista ao JB em Folhas, a dramaturga Denise Crispun relembra a festa que inicialmente acontecia na rua Maria Angélica. Segundo ela, “ao chegar ao Condomínio, a festa cresceu. Tinha adereços, casamento e uma produção maior, com jogos e barraquinhas”. As festas juninas, por sua vez, abriram caminho para a realização de outros eventos, como Ronca Ronca, do fotógrafo e DJ Maurício Valladares, que por três anos atraiu uma galera descolada de vários pontos da cidade para o pacato Horto.
“A festa levava muita gente às redondezas do Horto. Volta e meia ouço alguém me acusar de não ter dormido por conta do som ou, ao contrário, dizer que graças a mim passou noites ao som de Planet Hemp, Clash, Cheminal, Oasis e outros”, escreveu Maurício no blog da festa.
Atualmente, o Clube Condomínio é administrado pelo inspetor aposentado da Polícia Civil Sérgio Iório Vasconcellos e tem como presidente José Abranches, sócio do clube desde 1966, quando tinha 12 anos. Hoje, o espaço que comemorou seus 50 anos de atividades com show da Orquestra Tabajara vive do aluguel do campo de futebol Society, com grama sintética, cuja agenda está sempre cheia.
– A gente recebe desde moradores até artista da Globo, sempre foi assim. Agora estamos reformando o salão de festas e vamos investir em eventos infantis – afirma José, que morou na região por 43 anos.
José Abranches administra o Clube Condomínio
Há cinco anos, incluindo o intervalo da pandemia, o salão do clube é ocupado pelo Bazar do Horto, que comercializa roupas e objetos a preços baixos com o objetivo ajudar as pessoas de baixa renda da vizinhança. No mesmo espaço funciona também o Instituto Palmeira Imperial do Meio Ambiente, uma OCIP que desenvolve projetos ambientais que visam a reintroduzir aves na Floresta da Tijuca.
Clube Esporte Condomínio
Rua Abreu Fialho 12
Telefones: 99986-4826 ou 2512-3303
*Por Betina Dowsley
Fez parte da minha juventude..faz parte da minha história.
Nos anos oitenta, frequentei muito o clube .Nesta época havia baile todos os sábados . Num desses sábado conheci uma moça que atualmente é minha esposa.
Como falar com vocês. Contatos não funcionam!