22 de dezembro de 2022
ROMANTISMO DA FONTE AOS PÉS DO MORRO DA SAUDADE

A poética denominação de “Fonte da Saudade” consta na obra “Crônica Geral e Minuciosa do Império do Brasil”, escrita pelo historiador Mello Moraes, em 1879. Reza a lenda que a origem da localidade está associada a lavadeiras portuguesas que frequentavam a região no início do século XIX. Enquanto trabalhavam, elas entoavam fados, como forma de amenizar a saudade da “Terrinha”. Naquela época, havia quem acreditasse que a água daquela fonte era mágica e que quem bebesse dela nunca mais esqueceria as belezas do lugar.

O hábito teria surgido após o desmembramento do Engenho da Lagoa Rodrigo de Freitas em diversas propriedades. Na Ponta da Pitangueira, na praia da Peaçaba (ou Piaçava), ficava a casa principal do Sítio 66, propriedade de Manuel Gomes, onde hoje está a Igreja Santa Margarida Maria. Pois era nessa chácara que ficava a famosa Fonte da Saudade.

Sobraram poucos registros da fonte original. Um deles foi feito pela escritora britânica Lady Maria Dundas Graham Callcott, que a desenhou ao lado de sobreiros (árvore da cortiça) durante sua visita à chácara em 1821. Cinco anos depois, foi a vez do Barão von Löwenster retratá-la com um tanque à frente, possivelmente para dar água aos cavalos que por ali passassem.

A Fonte da Saudade por Maria Graham (1821) e pelo Barão von Löwenstern (1826).

Em junho de 1925, uma explosão de dinamite em uma pedreira nas proximidades lançou blocos de pedra enormes para todos os lados, danificando diversas propriedades. Uma delas foi o palacete da família Hamann, que estava em final de construção. Na retomada da obra, a nascente foi encontrada nos fundos do terreno e a família decidiu manter a tradição histórica da região. Uma nova fonte foi construída em estilo neocolonial, com painel de azulejos pintados e vitrificados a fogo.

A família Hamann posa, em 1932, à frente da réplica da fonte construída pelo patriarca.

O espaço entre o Morro da Saudade e a Lagoa cresceu na década de 1920 graças aos aterros do prefeito Carlos Sampaio, mas a região manteve o nome original. Com o passar do tempo, a ocupação do entorno da Lagoa por prédios de alto gabarito e a abertura do Túnel Rebouças, em 1965, descaracterizaram o clima bucólico do lugar. Um símbolo da ocupação original, porém, pode ser visto por quem caminha por ali: uma réplica da romântica Fonte da Saudade decora o jardim da frente do prédio de número 111, construído em 1976, na rua de mesmo nome.

*Por Betina Dowsley

*Fotos: Betina Dowsley (atual) e do livro “A Fazenda Nacional da Lagoa Rodrigo de Freitas”.

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