13 de março de 2025
AS MULHERES ENGAJADAS DA REGIÃO

Texto: Liz Tamane / Fotos: Chris Martins

Neste mês das mulheres, o JB em Folhas conversou com cinco mulheres que mostram que o ativismo e a defesa da região não têm idade nem limite. De diferentes formações e experiências, Ana Soter, Luiza Maria Carneiro, Milene Bedran, Miriam Brum e Vera Maurity se tornaram vozes essenciais na luta por um espaço urbano mais justo, sustentável e preservado. Guerreiras, compraram briga com grandes corporações, mas não perdem a ternura e estão sempre prontas para fazer da região um lugar melhor. Conheça um pouco mais da causa de cada uma. 

 

ANA SOTER           

CONTRA O DESMATAMENTO DO HORTO

Ana Soter, 59 anos, designer gráfica, luta há mais de dez anos contra o desmatamento do Horto, provocado pela construção do alojamento do Instituto de Matemática Aplicada (IMPA).  Moradora da região com a família desde pequena, ela não se conforma com a obra que transformou a pacata rua Barão de Oliveira Castro. “Eu nunca saí daqui. Me casei com o vizinho da frente, o que só reforçou meu vínculo com este lugar”, conta Ana, com uma nostalgia que mistura afeto e preocupação.

A batalha de Ana vem desde 2014, quando começou a ocupação do terreno de 251 mil metros quadrados, localizado ao lado de sua casa, onde está construído um alojamento com 129 apartamentos. A obra já retirou 459 árvores e vem causando problemas na região, principalmente quando chove. E apesar do terreno ser de alto risco geológico, dos manifestos dos vizinhos, nada interrompe a construção. “O projeto pode se transformar em algo completamente diferente do que foi planejado inicialmente, até mesmo em um hotel”, explica Ana, que observa de perto os rumos da obra e se mantém firme em sua resistência. O fato de ser mulher funciona como uma força a seu favor, e não uma fraqueza, e complementa: 

– Eu sou mulher e acho que a minha resistência tem muito a ver com a resiliência que é característica feminina. Isso me dá forças para não negociar meus princípios. Meu receio é ver minha casa sendo soterrada por algo que eu poderia ter evitado. A luta pela preservação não é apenas sobre o terreno, mas sobre nossa identidade, nossa memória e o legado que deixamos para as próximas gerações, conclui Ana. 

LUIZA MARIA CARNEIRO,                     

A DEFENSORA DA GÁVEA

Após décadas trabalhando na engenharia civil, Luiza Maria Barboza Carneiro, de 72 anos, encontrou um novo propósito: a preservação da Gávea, bairro onde sua família vive há mais de um século. Presidente da Associação de Moradores, ela se dedica a melhorar a qualidade de vida da região e a garantir que as mudanças urbanas respeitem seu patrimônio.

A relação de Luiza com a associação começou há 10 anos, quando se aposentou e decidiu contribuir ativamente para a comunidade. Primeiro como vice-presidente e, nos últimos anos, à frente da instituição, ela se tornou uma das principais vozes na interlocução com o poder público.

“Nosso maior desafio é justamente esse contato com os órgãos municipais e estaduais. Demandamos melhorias constantes, mas é preciso muita dedicação para sermos ouvidos”, explica.

Mesmo com as dificuldades, Luiza coleciona conquistas. Uma delas é a revitalização da Praça Santos Dumont e as melhorias no trânsito, como a implementação da rotatória. Além disso, o grupo se engaja em ações voltadas às escolas públicas da região. Mas ainda há lutas pendentes, como a conclusão da Estação do Metrô Gávea, obra inacabada, desde 2015, se tornou uma grande preocupação para os moradores.

Para ela, ser mulher no Rio de Janeiro não é nem um martírio nem um prazer absoluto, mas uma realidade que encara sem romantismos. Com a experiência de quem construiu pontes – tanto no sentido literal quanto no figurado –, Luiza segue sua missão: garantir que a Gávea continue sendo um bairro vibrante, organizado e fiel à sua história. “Na minha experiência, homens e mulheres podem ter atuações iguais na vida pública”, afirma. 

MILENE BEDRAN:                                 

A VOZ PELA PRESERVAÇÃO DA COBAL

Milene Bedran não levanta bandeiras políticas, mas ergue a voz sem hesitação. Aos 50 anos, a advogada está à frente da Associação de Empresários da Cobal do Humaitá e do Leblon há quase uma década, lutando pelo reconhecimento e permanência dos comerciantes nesses históricos pontos de encontro da cidade. A sua luta é mais do que jurídica; é também emocional, comunitária e social. 

A Cobal não é apenas um ponto comercial, mas um símbolo de tradição e convivência e sua missão é pela preservação de um espaço que faz parte da história do Rio de Janeiro e garantir que essa memória seja preservada. Além disso, ela luta para que os empresários – tanto os que ainda resistem quanto os que foram forçados a sair – sejam ouvidos.

Mas ser mulher em um cenário de negociações duras com o poder público é um desafio dobrado. “A guerra de uma mulher é muito mais dolorosa”, afirma. Enfrentar uma sociedade machista enquanto defende uma causa exige dela uma resiliência à exaustão. E Milene não se dobra. Ela entende que sua inteligência e articulação são suas armas, ainda que, em meio às disputas, tenha sido alvo de insultos velados e tentativas de desqualificação.

A postura firme e a independência política da empresária já lhe renderam atritos com diferentes governos. No passado, houve alguma abertura para diálogo, mas no atual, sequer foram chamados para conversar.

“Estamos sempre buscando ser ouvidos, mas até agora não tivemos vitórias, apenas seguimos questionando juridicamente”, explica a advogada, que, com uma coragem singular, está à frente dessa luta coletiva. 

MIRIAM BRUM                                   

PELO VERDE DA GÁVEA

Aos 67 anos, Miriam Brum transformou sua experiência como produtora cultural em uma nova missão: preservar a qualidade de vida no Rio de Janeiro, começando pela Gávea. “Para ser global, comece a agir localmente”, diz ela, resumindo seu compromisso com o meio ambiente.

Integrante da Associação de Moradores da Gávea (AMAGÁVEA), Miriam está à frente de uma batalha contra o desmatamento na região. Um projeto imobiliário prevê a construção de 17 casas de luxo em uma área de mata, no alto da rua Marquês de São Vicente, que resultaria no corte de 227 árvores. Diante dessa ameaça, a Associação entrou com uma representação no Ministério Público em agosto de 2024 para questionar as irregularidades do empreendimento. Mas até agora, nenhuma vistoria foi feita. Enquanto o processo avança dentro da Prefeitura, a moradora e outros ativistas seguem pressionando por respostas. Segundo ela, grandes corporações imobiliárias exploram brechas e distorções legais para viabilizar projetos que comprometem o meio ambiente. Mas Miriam não se intimida.

– O maior desafio é fazer com que as leis sejam cumpridas. Nós, mulheres, somos GAIA! Força, persistência e resiliência. E, sobretudo, atentas.”

 

VERA MAURITY                               

CHEGA DE VOOS PANORÂMICOS! 

Aos 76 anos, a economista Vera Maurity é uma das principais ativistas do Movimento Rio Livre de Helicópteros Sem Lei, que desde 2012 se opõe aos excessivos voos panorâmicos de helicópteros nas proximidades do Cristo Redentor, que afetam a região do Jardim Botânico. A paixão pela preservação do meio ambiente e pelo bem-estar da população carioca, é o que move Vera, que dedica boa parte de sua vida à luta por uma cidade mais silenciosa e saudável. A ativista destaca ainda a falta de estudos sérios sobre o impacto ambiental desses voos, uma preocupação crescente entre os moradores e especialistas da área.

“A poluição sonora provocada por esses helicópteros é prejudicial à saúde pública, à fauna que habita o Parque Nacional da Tijuca e ao próprio ambiente natural do Rio. Esse assunto precisa ser discutido com urgência”, reforça Vera. 

Para a economista, ser mulher é um desafio adicional à sua luta, já que as ativistas são muitas vezes ignoradas. “Já fomos acusadas de histéricas, de velhas chatas que só se preocupam com o próprio jardim”, reflete. Entre as conquistas do movimento estão as mais de 12 mil assinaturas do abaixo-assinado que está circulando e as ações judiciais em andamento, incluindo uma investigação junto ao Ministério Público.

Vera não esmorece e segue firme em sua causa, que não é uma exclusividade do Rio de Janeiro. O problema é global e está presente em cidades turísticas como Paris, Nova York e Londres. 

– A luta contra os helicópteros é universal, abordando questões de cidadania e respeito à saúde pública. Seguimos firmes na defesa do bem-estar de todos”, conclui Vera.

 

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