Texto: Ian Birkland / Fotos: Chris Martins
A inspiração de um artista pode vir em diversas situações. Às vezes um relacionamento, ou até uma experiência pessoal, mas o fato é que o lugar em que moram, transitam e convivem, é parte essencial do processo criativo. O arquiteto Maurício Nóbrega, de 64 anos, sabe bem disso e, como Tom Jobim em suas canções, sempre busca dar um toque do Rio ao que faz. Seja em São Paulo, Portugal, ou Nova York, ele carrega em seus projetos um pouco de cidade onde nasceu. “Sou fã do Rio e acho que, onde quer que você esteja morando, é essencial ter o DNA de onde você veio”, opina o morador do Humaitá há dez anos.
Maurício traduz essa carioquice no seu trabalho, principalmente através de cores. O estilo surgiu de forma natural, muito por conta da sua rotina ao longo dos 40 anos de carreira. “Eu costumava fazer tudo de bicicleta: dava um mergulho na praia, passava em uma obra, ia para o escritório e assim passava o dia. O Rio é uma cidade solar, então por que não criar ambientes coloridos?”, questiona ele, que desde pequeno gostava de acompanhar o pai, também arquiteto, nas obras. Mas a decisão de seguir a carreira passou por algumas etapas.
– Eu queria ser diplomata para conhecer o mundo. Mas quando fui me inscrever na Ordem do Rio Branco, soube que precisava cursar outra faculdade por dois anos. A maioria optava por administração ou economia, que não tinha a ver comigo. Então escolhi arquitetura e logo no primeiro período já estava totalmente fascinado pela profissão. Esqueci totalmente o Itamaraty – conta, rindo do acaso que o tornou um dos arquitetos mais requisitados do Brasil.
Um dos projetos de Maurício (2010).
Ele cursou arquitetura na extinta Faculdade Bennett e chegou a estagiar com Cláudio Bernardes e Ana Maria Índio da Costa, que são referências e colegas de profissão hoje. Morador do Flamengo na juventude, há 24 anos ele decidiu se mudar para as bandas do Jardim Botânico e seus arredores. Primeiro, foi para a Gávea e abriu o escritório, o Maurício Nobrega Arquitetura, em sociedade com em sociedade com Patricia Vieira, Maria Estellita e Bia Wolf (foto abaixo). Depois fixou residência no Humaitá onde mora até hoje, na Rua Viúva Lacerda. “Adoro o bairro. É silencioso, tranquilo e tem um povo muito legal”, afirma o arquiteto. Entre os lugares que gosta na região estão o Tragga, na Visconde de Silva, a pizzaria Domenica, na Capistrano de Abreu e não esconde as saudades do brownie do Café Sorelle, que fechou durante a pandemia. “Era o melhor!”, recorda.
Maurício aceitou o desafio de fazer uma café/livraria
Atualmente o arquiteto está frequentando mais o Jardim Botânico por conta do Casacor 2023, que tem como tema “Hotel Boutique”. Parceiro do evento há três décadas, desde a primeira montagem no Rio de Janeiro, o arquiteto já fez projetos para os mais diversos cômodos e este ano teve como desafio, inédito na carreira: criar um café/livraria. O espaço tem ambientes internos e externos interligados e bem arejado. “Como não há clientes, você acaba fazendo um trabalho para agradar a si mesmo. Para fazer este projeto, eu pensei como o dono do estabelecimento e em como eu gostaria que fosse. Isso proporciona uma experiência diferente a cada edição”, confessa.
O café/livraria criado para o evento deste ano.
Para Maurício, o Casacor é fundamental para o nicho de arquitetura de interiores. “Depois da Casa Cor as pessoas pararam de achar que arquiteto é coisa de elite e passaram a contratar mais o serviço. Muitas pessoas já me falaram que não há mais necessidade de eu participar, mas eu gosto muito, acho importante para a classe – reflete.
Atualmente, o arquiteto está envolvido em outros projetos. Entre eles está a reforma de duas escolas na Gávea, sendo que na Escola Municipal Desembargador Oscar Tenório o trabalho é beneficente. Ao avaliar o que falta na sua carreira, Maurício confessa: “Morro de vontade de fazer um Hotel Boutique. Acho que seria espetacular, especialmente aqui nesta região que falta algo do gênero, para atender os turistas. Se fosse pelo Jardim Botânico, melhor ainda.”.
Instituto Brando Barbosa, que recebe a Casacor 2023.
AQUI É A CASACOR
Pelo terceiro ano consecutivo, a Casacor ocupa o Instituto Brando Barbosa, no Jardim Botânico. A 32ª edição do evento acontece até o dia 15 de outubro e teve como proposta este ano, transformar o palacete em um “Hotel Boutique”. Os 43 ambientes do espaço e os 12 mil metros quadrados de jardins que rodeiam o casarão foram reformados e repaginados por mais de 60 arquitetos.
O evento surgiu em 1987, idealizado por Yolanda Figueiredo e Angélica Rueda, e chegou ao Rio de Janeiro quatro anos depois, em 1991. Desde então, foram mais de 30 edições que já reuniram diversos nomes da arquitetura nacional. Em 2023, são mais de 60 nomes envolvidos no projeto do hotel boutique.
Os ingressos estão custando a partir de R$45, pelo site do próprio evento e as visitas acontecem de terça a sábado, das 12h às 21h, e aos domingos, das 10h às 20h.
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