Quem mora no Rio de Janeiro sabe que uma boa maneira de evitar o trânsito, os transportes públicos e ainda ser ecologicamente correto é se locomover de bicicleta. A cidade conta com cerca de 450 quilômetros de ciclovia e é a terceira colocada entre as cidades com as maiores malhas cicloviárias do Brasil, estando atrás apenas de Brasília e São Paulo. Com tantos quilômetros para pedalar e tantas vistas bonitas para apreciar, não é de se espantar que muitos cariocas optem pela bike como meio de transporte, lazer ou como forma de se exercitar ao ar livre.
Na verdade, estar ao ar livre tem sido tão importante ultimamente, que dá para perceber o aumento na quantidade de ciclistas na cidade. A plataforma Strava – aplicativo usado para monitorar corridas e pedaladas – registrou um acréscimo de 25% de ciclistas no Rio em 2021. Tecnologia à parte, para Gabriel Boliclifer, que faz teatro no Tablado, o que indica a maior utilização de bicicletas é a dificuldade que passou a ter de encontrar os equipamentos de aluguel do Itaú disponíveis. Ele usava as laranjinhas como meio de transporte desde antes da pandemia e viu a oferta diminuir: “Com o aumento de usuários e a utilização por entregadores de aplicativos, às vezes não encontrava nenhuma disponível em um raio de 4 quilômetros”, conta ele.
Segundo a assessoria de imprensa do aplicativo Tem Bici, a procura pelas bicicletas de aluguel é grande no Jardim Botânico. As quatro estações do bairro somam 30 laranjinhas, e o local mais utilizado é o que fica em frente ao número 716. A oferta já foi maior, mas houve uma baixa, com a retirada do ponto da rua Maria Angélica.
A venda de bicicletas – novas e de segunda mão – também cresceu. O primeiro semestre de 2021 registrou um aumento de 34,17% nas vendas em relação ao mesmo período no ano anterior, de acordo com a Associação Brasileira do Setor de Bicicletas (Aliança Bike). Luiz Duarte, dono da Speed Bike, confirma a tendência. Além de consertar bicicletas, a tradicional loja do Jardim Botânico costuma colocar à venda as usadas de seus clientes:
– A procura aumentou tanto nos últimos meses, que não temos nenhuma agora pra vender – afirma o comerciante.
Luiz trabalha ramo desde 1988. A profissão atravessou gerações de sua família: seu avô, Antônio Duarte, já consertava bicicletas em Portugal. Ao chegar ao Brasil, continuou no ofício, passado depois para seu filho e neto. Durante a pandemia, a Speed Bike ficou fechada por dois meses e, quando reabriu, realizava os atendimentos na calçada. Luiz conta que, mesmo tendo um aumento no movimento, o faturamento caiu: “trabalhamos mais, mas ganhamos menos do que antes”, admite.
Aline Molinaro, dona da Bicicletaria Horto (abaixo), também viu o número de clientes diminuir drasticamente no início de 2020. Aos poucos, o movimento foi retomando: “Quando as pessoas começaram a se sentir seguras para fazer atividades ao ar livre, houve aumento na procura para compra, logo seguida pelos reparos. As pessoas começaram a tirar as bicicletas que tinham paradas na garagem e botaram pra rodar”, analisa. Atualmente, Aline percebe um maior número de pessoas pedalando e usando a bicicleta como meio de transporte.
Outro profissional que trabalha de forma autônoma é Anderson Luiz Silva, da Abstrato Carioca Bikes. Ele começou a consertar as bicicletas dos amigos, quando ainda era moleque e foi tomando gosto. Há 15 anos resolveu transformar o prazer em negócio e, desde então, oferece uma gama de serviços relacionados às magrelas, como limpeza, restauração, troca de peças e a pintura personalizada, que é o seu forte: “Eu faço de tudo um pouco, monto, pinto e conserto, de acordo com o interesse do freguês”, explica Anderson, que tem parceria com alguns condomínios na região, recuperando bikes abandonadas.
O forte de Anderson é a pintura personalizada.
Além de trabalhar com bicicletas, todos são adeptos da magrela como meio de transporte. Por usarem as ciclovias, eles acreditam que há muito a ser aprimorado. Josué diz que há muitos buracos e lugares com galhos baixos, que atrapalham a circulação. Já Aline acredita que o pior é a falta de pistas exclusivas em todos os lugares: “Falta uma ciclovia que atravesse Botafogo, o bairro é como um buraco negro”, observa.
Quando perguntado sobre como os ciclistas podem cuidar melhor das bicicletas, Luiz brincou: “Cuidar? Deixa que nós cuidamos!”. Brincadeiras à parte, ele destaca que o ideal é não deixar a bike exposta à chuva, pois a umidade e a maresia causam muitos estragos. Aline vai além e ressalta a importância de sempre colocar óleo na corrente: “Óleo multiuso mesmo, nada de WD. É importante também andar com os pneus cheios”, aconselha. Josué é categórico: “sempre fazer manutenção, pelo menos a cada três meses para a bicicleta ter um funcionamento legal”.
Abstrato Carioca Bikes – 99484-4900
Bicicletaria Horto: 98683-3880
Josué Ferreira: 97416-8536
Speed Bike: 2294-9246 / 99835-4297
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