14 de setembro de 2023
CHICO DIAZ ENTRE TINTAS E DE VOLTA À INFÂNCIA

“Uma volta à casa, à família”, esta é a definição de Chico Diaz para a exposição “Casa da Infância”, que ele inaugura nesta sexta (15/9). O nome é autoexplicativo: a mostra ocupa a simpática residência na Avenida Alexandre Ferreira, onde o artista veio morar criança, dividindo o espaço com seus pais e irmãos. “O meu objetivo era homenagear esse contexto que me formou. Das paredes à convivência com meus irmãos. O pátio interno, por exemplo, ganhava ares de  Maracanã em dia de Fla x Flu, com jogos épicos de futebol”, brinca Chico, que recorda a rivalidade futebolística entre os cinco irmãos que se dividem entre rubro-negros e tricolores. Na abertura serão projetados filmes antigos da família, feitos no espaço com uma câmera super 8, além de álbuns de fotografias e, claro, as obras. “A curadoria não teve nenhum recorte específico. Algumas foram feitas em Lisboa, outras simbolizam minha trajetória neste meio”, explica o artista, que foi entrevistado no segundo número do JB em Folhas, em 2003, com uma pintura do Corcovado, que integra a atual mostra.

Chico na segunda edição do JB em Folhas

O talento para as artes veio cedo e embora nunca tenha exercido a profissão de arquiteto – onde se formou pela UFRJ, ficou o gosto pelo desenho.  Foi no começo dos anos 2000 que ele começou a se dedicar às artes plásticas como uma terapia. “Já estava estabelecido como ator quando comecei a me apaixonar pela ‘perda de tempo’ que o processo criativo do desenho e da pintura envolve. É uma leitura da vida sem muitos intermediários, um pensamento solitário e essa questão poética que envolve é o que mais me intriga”, reflete ele, que fez uma primeira exposição em 2017, na galeria Paulo Branquinho.

Em 2019  ele foi para Portugal e começou a abrir alguns caminhos e adquiriu o hábito de desenhar todos os dias, além de procurar por galerias em que pudesse expor seus trabalhos. Numa dessas andanças, conheceu Rui Lagartinho, que comanda a “Arte Graça”, onde acabou expondo, em abril deste ano. Em outubro, ele já tem outra agendada, na Casa da Cidadania da Língua, em Coimbra. “Tive muita coragem de expor em Lisboa. Cruzar o Atlântico com quadros, telas, tintas, etc. Foi um desafio e tanto. Mas foi bom. Por algum motivo, as pessoas se interessam mais pela minha arte”, diz.  As questões políticas e a pandemia o levaram a ficar mais tempo do outro lado do Atlântico. “Por lá, as discussões a respeito de política, da arte e de outras questões são mais completas”, explica, completando que agora o quadro internacional em terras portuguesas piorou enquanto no Brasil as coisas começam a mudar;  “Acho que o Brasil está com bons ventos daqui para frente. Torço muito por isso”, confessa o ator.

A pintura do Morro do Corcovado (Foto: Chris Martins)

Chico Diaz nasceu no México, em 1959, e desembarcou no Rio de Janeiro com a família quando ainda era garoto, em 1968, indo morar na casa da rua Alexandre Ferreira, no Jardim Botânico. Pelo fato de serem estrangeiros, algumas dificuldades quanto à socialização começaram a aparecer, o que acabou contribuindo para o fortalecimento da relação entre pais e irmãos. “Como não conhecíamos ninguém no RJ, a família era como uma ilha”, reflete o artista, que não esconde o desejo de de ver a antiga residência ser transformada em um centro cultural. Para ele, toda a região ganhou um gostinho especial com o tempo, principalmente por conta das experiências marcantes que viveu:

– Estudamos todos no Colégio Souza Leão, que ficava ao lado do Parque Lage;; meu primeiro beijo foi aqui nessa rua; eu, meus irmãos e amigos jogávamos bola em um estacionamento próximo e ainda tinha a praça Sagrada Família, onde me reunia com os amigos. Foi uma época importante para a minha formação como pessoa – lembra Chico.

A antiga casa da família, que recebe a exposição (Foto: Chris Martins)

A dedicação à pintura não afastou Chico do ofício de ator. Nos últimos anos, ele trabalhou nos filmes “Noites alienígenas”, “Vermelho Monet” e no português “O ano da morte de Ricardo Reis”, fez uma participação na série  “Todas as Flores”, além de “Rei Lear”, no teatro e agora prepara-se para voltar às novelas, com um papel de um padre, no remake de Renascer.  

Para o artista, não há preferência por um segmento, eles vão se alternando de acordo com o tempo. 

– O Chico ator e o pintor são camadas diferentes da mesma pessoa, uma outra forma de tentar dar significado ao mundo, de estar vivo. Mas, as artes plásticas vem ocupando mais espaço. Com a idade, a quantidade de papéis oferecidos são cada vez menores e vai sobrar mais tempo para os desenhos – conclui.



CHICO DIAZ | CASA DA INFÂNCIA

Av. Alexandre Ferreira, 318, Lagoa

Abertura: dia 15 de setembro, a partir das 19h30

De quinta a domingo, das 17h às 21h

Até dia 30 de setembro

Entrada franca

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