18 de maio de 2023
PROGRAMAS DE ADOÇÃO REVELAM  JOVENS TALENTOS

Conhecimento e estudo podem ser armas poderosas para combater as dificuldades apresentadas pela vida. Infelizmente, em um país desigual como o Brasil, nem todos conseguem ter acesso a esses direitos. E seguindo o mantra, “se cada um ajudar um pouco, todos saem ganhando”,  instituições, estabelecimentos e mesmo pessoas físicas estão fazendo a sua parte tentando possibilitar novas oportunidades para os menos assistidos. 

O Jazz Carlota Portella (JCP), tradicional escola de dança no Jardim Botânico, criou em abril o projeto “Adote 1 Bailarina”, que permite que pessoas físicas e jurídicas ajudem a custear aulas de prodígios da dança em sua academia. Com isso, o voluntário pode ajudar com uma bolsa integral ou parcial de 50% e 25%. No valor está incluso, além da mensalidade para aulas duas vezes por semana, o uniforme e a fantasia para a tradicional apresentação de final de ano do JCP. 

Para Thereza Mascotte, diretora do espaço, é uma oportunidade de descobrir e apoiar novos talentos, de todas as idades.  Depois de realizar audições em algumas escolas do bairro, ela fez uma lista de 25 jovens expoentes e, deste total, seis já foram adotados, enquanto os outros aguardam por um apoiador.   Nem bem começou, o Adote 1 bailarina está rendendo frutos, graças à dentista Charbelle David Chaves. Ex-aluna da JCP, ela, além de adotar o jovem David Lucas Rodrigues de 11 anos, decidiu apoiar o projeto, oferecendo atendimento odontológico gratuito aos alunos.

– Eu decidi adotar o Lucas por causa do preconceito que os rapazes sofrem no meio da dança. O projeto é importante para mostrar estes talentos que estão bem pertinho e a gente nem vê. É um trabalho de formiguinha, mas a gente tenta, – afirma.

David e Ana Luísa estão animados com as aulas de street dance (Foto: Chris Martins)

Com 11 anos de idade, David Lucas Rodrigues, participou do teste de seleção na Escola Municipal Shakespeare para aulas de street dance. Morador da Rocinha, a dança tem sido a atividade favorita do jovem atualmente.  “Ele está adorando as aulas, fica mostrando os passos, espero que dê certo”,  torce a mãe Carolina da Silva. 

Companheira de Lucas nas aulas de street dance, Ana Luísa Teles, de 13 anos, é moradora do Horto e, como aluna do Divina Providência, fez o teste na escola. Segundo a mãe, Simone Teles da Silva, a dança foi fundamental para a jovem durante a pandemia e, até hoje, ajuda a superar momentos difíceis: 

– Ela está empolgada com a apresentação e ensaia as coreografias. Está fazendo bem para a cabeça e para o corpo dela – revela Simone.

Alexandre Borges, do Projeto Tênis na Lagoa (PTL), não tem nenhum modelo de projeto, mas corre atrás de apoio para os alunos que acredita terem potencial.  Foi assim com Nathalia Moura Ribeiro Neves, de 15 anos, aluna do PTL há nove anos. Filha de um porteiro e uma doméstica, a jovem conseguiu, graças ao técnico, ser sócia do Flamengo, para jogar na quadra de saibro.  “Meu sonho é ser tenista profissional, por isso, eu me dedico ao máximo”, diz Nathália que já disputou mais de 20 campeonatos pelo projeto. 

A Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV) é outro espaço, no Jardim Botânico, que conta com bolsas de estudos para alunos em situação de vulnerabilidade social.  Para o segundo semestre de 2023, a instituição vai  oferecer 80 bolsas sociais integrais, custeadas pela AMEAV, sendo que, deste total, 50 serão destinadas a alunos com vulnerabilidade social para os cursos presenciais e on-line da EAV; 18 serão para alunos e professores do Colégio Estadual Ignácio Azevedo do Amaral, também no bairro, além de 12 bolsas destinadas à parceria entre a EAV e a Fundação Macatur, de Cachoeiras de Macacu.

Alexandre dribla as dificuldades com criatividade.

No mesmo esquema de incentivar talentos promissores o Baukurs, curso de alemão – que está há 10 anos na rua Goethe, mas tem sua história no JB -, tem um programa de adoção. “Nós já fizemos parcerias com a ONG Dançando para não dançar e com a Orquestra Jovem Petrobrás Pró Música. É muito bacana quando recebemos notícias destes alunos. Tem um que agora é o primeiro trompista da orquestra de Rotterdam”, lembra Thea Schünemann, fundadora do curso que hoje é gerenciado pelos filhos Noah e Kim.  

E quem não tem sala de aula para fazer boa ação, vai para a rua. É o caso do engenheiro Silvério da Silva Morón, de 68 anos, que em 2018, criou o projeto “Adote um aluno“, e ministra suas aulas em praças. Tudo começou na Praça Mauro Duarte, em Botafogo. Às terças e quintas, Silvério se arrumava, sentava por lá e esperava por estudantes que tivessem dúvidas em matemática e física. A notícia se espalhou e diversos voluntários se candidataram para dar aulas em diferentes partes da cidade, como Copacabana, Laranjeiras, Grajaú e até em outros municípios, como Niterói. 

Por conta da pandemia, a iniciativa deu uma parada e retornou em outubro de 2021 em sete praças: Largo dos Leões, no Humaitá; Praça São Salvador, em Laranjeiras; Edmundo Bittencourt, em Copacabana; Aterro do Flamengo; Mauro Duarte, em Botafogo; Praça Xavier de Brito, na Tijuca e na Praça Edmundo Rego, no Grajaú. Além de Silvério, outros 11 voluntários se revezam pelos locais para tentar ajudar quem precisa e vai além da matemática, passando por física, português e francês. 

Silvério divide sua semana entre as cinco praças da Zona Sul e marca presença às terças no Largo dos Leões – onde divide o espaço com Eliane Junqueira (foto), que dá aulas de português e redação – e,  às quintas, na Mauro Duarte, sempre das 10h às 13h. Além disso, disponibiliza seu WhatsApp para que os alunos tirem dúvidas.

O professor acredita que este trabalho voluntário é um passo importante para reduzir a desigualdade educacional. “Quando comecei a dar aula, percebi que 90% dos alunos eram de escolas particulares. Através da educação podemos tentar resolver alguns problemas sociais, como a violência. Sei que as minhas aulas são uma gota d’água no oceano, mas torço que iniciativas como essa se espalhem e ajudem quem precisa”, conclui.

 

ADOTE 1 BAILARINA – JAZZ CARLOTA PORTELLA

Telefone: 2539-0694

PROGRAMA AMIGO EAV – ESCOLA DE ARTES VISUAIS PARQUE LAGE

Telefone: (21) 2216-8505 | (21) 99232-8162

BAUKURS

Telefone: (21) 2294-6017 | (21) 99411-8480

ADOTE 1 ALUNO – SILVÉRIO MORÓN

Telefone: (21) 99977-2533

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