27 de julho de 2023
HUMAITÁ, UM BAIRRO QUE VEIO PARA FICAR

Humaitá, palavra de origem indígena, que significa pedra preta. Nome também de uma batalha fluvial que aconteceu em 1868 no rio Paraguai entre forças brasileiras e paraguaias. E o bairro no Rio de Janeiro, espremido entre Botafogo e o Jardim Botânico, antes de ficar conhecido pela sua vida noturna, era chamado de Praia da Piaçava que ligava o caminho da São Clemente à Lagoa Sacopenapã. Apesar das muitas histórias que reúne em sua pequena área, o Humaitá é novo. Só em 1981 ele foi oficialmente delimitado, através do decreto Nº 3158, que completou, no último dia  23 de julho, 42 anos. 

Ballroom foi um marco na região

Ao longo da sua extensão – 1,05 km quadrados, o bairro reúne diferentes marcos, como a Casa de Saúde São José – que celebrou este ano seu centenário – a Cobal, a Companhia Brasileira de Alimentos – que ocupou o terreno de uma antiga fábrica de bondes e se transformou em um centro comercial em 1971 que resiste até hoje. Assim como a lendária Casa do Mago, centro espírita comandado pelo mago Ubirajara Pinheiro, que chama a atenção na principal via do por conta de suas estátuas e santos e um imenso São Jorge. A região também é conhecida pelo seu movimento cultural, que tem como carro-chefe o Espaço Cultural Sérgio Porto, e por suas escolas tradicionais, como o Andrews, o Pedro II e o Padre Antônio Vieira, que fechou suas portas recentemente.

A Casa do Mago chama a atenção pelas imagens

A veia cultural da região cresceu em 1995, com a abertura do Ballroom, que durante os seus 10 anos de existência recebeu shows de todos os tipos. O espaço se situava na esquina das ruas Humaitá com a Viúva Lacerda, onde atualmente é o supermercado Zona Sul. Na carona da casa de shows, o Humaitá recebeu, na mesma época, o cachorro-quente do Oliveira, que ganhou fama justamente por matar a fome da turma que saía dos shows na madrugada. 

Oliveira Ferreira da Silva mantinha sua barraquinha na Tijuca, quando soube da abertura do Ballroom e transferiu seu ponto para a frente da rua Viúva Lacerda, na calçada central da Rua Humaitá. “Conheci muitos artistas. Marcelo D2 estava sempre aqui e Marisa Monte também”, lembra o comerciante que fez seu cachorro-quente circular por outros bairros da Zona Sul e atualmente mantém um delivery. 

Oliveira veio atrás do Ballroom e ficou 

Não muito longe dali, o Sanduka é outro estabelecimento que faz parte da história do Humaitá, com mais de 50 anos de serviços prestados à região. Fundado em 1972 por um grupo de portugueses, que eram ex-donos do BB Lanches, no Leblon, a lanchonete atualmente é administrado por Marcos Fernandes, de 63 anos, e  seu filho, Fernando. O principal desafio da dupla, é manter a tradição do local, que tantos moradores guardam com carinho na memória. “Temos um público fiel, que frequenta o Sanduka desde pequeno e traz os filhos”, destaca o comerciante, chamando a atenção para o Sorvete Brasil, que é feito por eles de forma artesanal e reverenciado em todo o país. “Só aqui tem sorvete de figo com nozes”, sentencia Marcos. 

Marcos e Adilson, tradição no bairro

Ao mesmo tempo em que guarda sua história pelas ruas, o Humaitá também abriga uma nova geração, que bate ponto em bares como o Boa Pinga, na Voluntários da Pátria, ou na região conhecida como o “Quadrado”, na Capitão Salomão, com os bares, como Fuska Bar, Plebeu, e Aurora. Mas tem quem prefira tomar a “gelada”, em pé no Posto BR. Adilson Moreira, de 64 anos, é funcionário há mais de 40, e lembra que o estabelecimento foi fundamental no bairro: “Comecei a trabalhar aqui em 1980 e o local sempre foi um point, do cafezinho à cerveja, muito por conta do movimento do Espaço Sérgio Porto”, conclui.

Para ele, o Humaitá é um bom lugar para se morar e tem uma localização privilegiada na Zona Sul do Rio. “Aqui tem de tudo e ainda é perto do metrô, do Rebouças e tem várias linhas de ônibus”, afirma o morador de Belford Roxo.

Entrada da Rua Miguel Pereira                

Mas nem tudo é agitação. O bairro reserva espaços bucólicos, com transversais que reúnem casas e sobrados. A rua Miguel Pereira é a antítese da via principal e ainda abriga o Parque do Martelo com sua programação voltada para a sustentabilidade.

O Humaitá existe para todos os gostos: de ruas bucólicas ao fervo da noite, o bairro encontra seu charme justamente nessa dicotomia. Com certeza, é muito mais do que um bairro de passagem.

 

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