28 de setembro de 2023
A FIGUEIRA QUE UNIU OS MORADORES

A mata e o verde, historicamente, são um ícone do Jardim Botânico desde sempre. Mas, para alguns moradores, a árvore mais marcante da região não fica nos limites do parque que dá nome ao bairro, mas sim no alto de uma ladeira. Trata-se da figueira localizada na Rua Faro que já está lá há mais de 200 anos e se tornou o símbolo da Associação dos Moradores do Jardim Botânico (AMAJB)  Tudo por conta da resistência dos moradores às várias tentativas de retirá-la dali.  

A história da árvore tem início ainda no século XIX, quando a família Faro adquiriu a Chácara da Cabeça, uma parte do extinto Engenho Del Rey, antiga moenda de açúcar que ocupava boa parte da região que, hoje se divide entre os bairros do Jardim Botânico e Horto. A figueira foi plantada no caminho para a Capela de Nossa Senhora da Cabeça, construída no século XVII e localizada no número 80 da rua que leva o sobrenome da família. Por mais de 150 anos, a árvore cresceu e tornou-se uma referência para quem morava na região.

A placa que fica embaixo da figueira, símbolo da AMAJB

O imbróglio com a árvore começou no final dos anos 1970, quando a Construtora Marabá deu início à obra de dois edifícios, no número 45, que seriam destinados à Carteira Hipotecária e Imobiliária do Clube de Aeronáutica. No entanto, o projeto previa a poda da árvore centenária, autorizada pelo Departamento de Edificações da Prefeitura do Rio. A decisão gerou a revolta dos moradores, que, liderados pelo advogado Leonel Kaz, deram entrada em uma solicitação ao Departamento de Parques e Jardins, para impedir que a figueira fosse derrubada. Naquele momento, nascia A Associação de Amigos e Moradores do Jardim Botânico (AMAJB). Morador da região, Kaz convocou amigos e vizinhos, como o designer gráfico Geraldo Alves Pinto – que entre idas e vindas, morou no JB em diferentes épocas e agora está de volta ao bairro – criou a logomarca da Associação e depois cartazes de eventos promovidos pela instituição.

Cartaz da Gincana feito por Geraldo Alves Pinto.

A mobilização foi às ruas pela primeira vez no dia 8 de janeiro de 1980 e reuniu mais de cem pessoas, a maioria moradores, que se manifestaram a favor da permanência da árvore. Depois de meses de protestos e brigas judiciais – que embargaram a obra mais de uma vez -, foi publicado o Decreto nº 2.783 de 23 de setembro de 1980, que oficializou a figueira como o primeiro bem tombado municipal do Rio. E assim, ficou sendo considerada, pelo Conselho Municipal de Proteção ao Patrimônio Cultural do Rio de Janeiro, como “um monumento vegetal e marco da luta pelo respeito ao direito humano de viver em um ambiente em que a vida valha a pena ser vivida”. E até hoje, 43 anos depois, a árvore mais emblemática da região reina imponente no fim da rua Faro, próximo à entrada da Casa Maternal Mello Mattos.

– Ela continua de pé, contribuindo com sua beleza e sombra para o bem-estar das pessoas que por ela passam. Assim como a AMAJB. A semente nasceu ali, e continua viva e atuante – destaca Gilson Koatz, integrante da associação desde  o começo, já tendo exercido o cargo de presidente, inclusive.

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