26 de março de 2024
INÊS SILVÉRIO E A FAMA DE MÁ, QUE É SÓ RISO

Texto e fotos: Chris Martins 

Quando a notícia do encerramento das atividades do Mercado Afonso Celso circulou pelo entorno da rua Conde Afonso Celso, , os moradores ficaram tristes, mas também preocupados com o destino dos funcionários que trabalham no estabelecimento. Especialmente com Inês da Silva Silvério, 46 anos,  que há 17 anos é o motor do mercadinho, fazendo as coisas funcionarem.  “Ela é quem resolve”, comentam alguns clientes antigos. Quando questionada sobre o seu cargo, Inês ri e se autodefine “Severina faz tudo”.  Não é à toa, afinal, nos últimos meses ela era a primeira a entrar, para abrir a loja, às 8h, e a última a sair, depois de fechar o estabelecimento, às 21h. 

Com Bráulio e o Bruno, agradecimento na despedida.

Com experiência no comércio, Inês soube da vaga para operadora de caixa no Mercado Afonso Celso, fez a entrevista e ficou. Residente no Morro dos Macacos, onde mora com a mãe, Maria Geraldino da Silva, de 73 ano. Solteira, sem filhos, ela tem um carinho especial pelos sobrinhos Romário, Luiz Carlos, Thamires Nathan, além de Vitor e Luan, que trabalharam no mercadinho. O último, inclusive, marcou presença nos últimos dias, ajudando a tia. Sem falar dos outros dois que ela adotou no serviço, se referindo aos chefes atuais. Faz sentido, pois a relação entre eles há muito deixou de ser entre patrão e empregado. Tanto que na despedida, com o Último Gole, dia 22 de março, Braúlio pegou o microfone e, emocionado, agradeceu o empenho de Inês no estabelecimento, especialmente, nas últimas semanas. 

Com o sobrinho Luan, juntos até o último dia.

Vaidosa, com as unhas sempre tratadas e pintadas, Inês não manda recado: é objetiva e reclama do que não gosta, o que lhe trouxe a fama de mal humorada. Tem até quem ache que ela gostou, quando seu Manoel se aposentou, por conta das discussões da dupla, mas ela esclarece: “eu reclamo com o que não acho certo, mas a gente discutia e brincava também. Gosto dele, faz falta”, confessa.

Com Seu Manoel, carinho em forma de briga

Inês confessa que é ranzinza, mas foi aprendendo a não se estressar com o que não valia a pena e fez muitas amizades. A fama de má ia embora no primeiro sorriso. Tanto que tinha cliente que só queria ser atendido por ela. “Tem gente que ligava e se eu não podia atender, preferia esperar. Muitos eu sabia até a marca que  costumava comprar”, afirma a funcionária, que aproveita para lembrar a história de uma senhora, que foi abordada no Pão de Açúcar, e convidada a responder uma pesquisa de qualidade. Ao ser questionada porque comprava no mercadinho apesar do preço alto, ela perguntou se o entrevistador sabia seu nome. E com a negativa, completou: “Lá eles  sabem!”

Muitos abraços e agradecimentos 

Provas de carinho como essa, Inês passou as últimas semanas recebendo de moradores, fornecedores e até de quem ela nem esperava.  Como alguns vizinhos que costumavam implicar com o barulho e o movimento do mercadinho e, no final, estava chorando pelo fechamento. 

– Veio muita gente me perguntar se eu precisava de algo e também para agradecer o atendimento que eu dava. Entravam, me abraçavam, perguntavam como eu ia ficar…Isso aqui é outro mundo, não existe – confessa, se referindo ao cuidado de muitos vizinhos com ela e com o próprio estabelecimento.

Luan, Roseane, Inês e Aurélio posam para foto com Braúlio

Ainda sem tempo para parar e pensar no amanhã, a comerciante vai esperar acertar suas contas com o Mercadinho para pensar com calma no futuro. Enquanto isso, Inês vai tentando colocar a vida em dia, levando a mãe para as sessões de hemodiálise e ajudando na desmontagem da loja.  Mas ela guarda um desejo:

“Foi muita emoção e tensão ao mesmo tempo. Ainda estou na pilha.  No primeiro dia sem trabalho, acordei às 4h da manhã. Eu quero sossego!!  Tipo, dormir um dia inteiro sem ter hora para acordar” – diz ela, para, como na música de Erasmo Carlos, manter a fama de má. 

 

 

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