8 de setembro de 2022
TODO DIA – OU QUASE – É DIA DE FEIRA!

“É dia de feira, quarta-feira, sexta-feira
Não importa a feira
É dia de feira, quem quiser pode chegar”

Não tem como falar em feira livre e não cantarolar a música de Marcelo Yuka/O Rappa. Afinal, quase todo dia é dia de feira. Nove entre dez entrevistados da coluna Caras do JB costuma ir à feira, se não toda semana, ocasionalmente. O colorido, os sabores, a animação e a possibilidade de negociar o valor da mercadoria contribuem para tornar as compras atraentes. Sem falar que, para muita gente, ir à feira é um programa e tanto! Da Gávea ao Humaitá, passando pelo Jardim Botânico, Horto e Fonte da Saudade, há seis delas espalhadas por aqui. Quase uma para cada dia da semana. Começa na quarta, com as do Humaitá, Fonte da Saudade e Horto; sexta é a vez da Gávea; sábado tem duas, uma na rua Frei Leandro e outra ao lado da Igreja São José da Lagoa; e, fechando a semana, no domingo, o ponto é na rua Lineu de Paula Machado, essas três últimas no Jardim Botânico.

No final de semana, a feira deixa de ser obrigação e vira programa família.  Para o casal Marcelo e Simone Barreto, moradores da Lagoa, o sábado começa com uma passada na rua Frei Leandro. Faz parte do ritual comprar frutas na barraca do André e comer o pastel do Amigão, que pode ser acompanhado por uma cerveja no Bar Sonho Lindo ou na Livraria Janela.  Por muito tempo, essa feira foi chamada de “Feira dos Chefs”, pela presença de muitos restaurantes estrelados em sua vizinhança e fregueses ilustres, como Claude Troisgros e seu fiel assistente, Batista, que tinham suas barracas preferidas quando trabalhavam ali.

Se o pastel faz sucesso, a tapioca também não fica atrás, com uma equipe gentil e animada, que gosta de conversar com os fregueses. Localizada na esquina da Custódio Serrão, a barraca conta com mesinhas e, certas vezes, até com trilha sonora, graças a dois jovens que, em busca de uns trocados, ficam tocando violino para deleite do público. Aliás, de uns meses para cá, o ponto está mais musical, com a chegada do Choro na Feira, encontro quinzenal criado pela loja Delivery, na mesma rua. 

O verdureiro Luiz Ramos, há 15 anos, marca presença nas feiras da rua Frei Leandro e da praça Santos Dumont. Entre as duas, a sua favorita é a do JB: “O pessoal aqui é muito educado e gente fina.  Depois de tanto tempo, a gente passa a conhecer os fregueses como se fosse família”, observa o comerciante. Outra presença em quase todas as feiras da região é Dentinho, que é mais conhecido pelos frequentadores da Lineu de Paula Machado, aos domingos. Ele criou um vínculo tão grande com alguns moradores, que até recebeu cesta básica durante a pandemia.  Sem barraca, vende limão e maracujá e gosta de botar a conversa em dia com alguns clientes que conhece pelo nome.

Uma boa pedida na Lineu é o Pastel do Bigode, pertinho da barraca do Roni, que é parada obrigatória para comprar água de coco e o aipim que derrete na boca. Para Bráulio Ferreira, do Mercado Afonso Celso, a feira é também um ponto de encontro de vizinhos.  “Adoro, quando não estou trabalhando, levar a família para tomar café da manhã na feira.  Entre frutas e pastel, a gente se diverte”, garante o comerciante.

O coco do Roni é bem procurado na feira da Lineu

Ninguém precisa esperar o fim de semana para ir às compras: na quarta, tem feira na rua Maria Eugênia, no Humaitá, e duas pequenas, uma ao lado da Igreja Santa Margarida Maria, na Fonte da Saudade, e outra na rua Abreu Fialho, no Horto, que sequer estão listadas no site Onde tem feira. Às sextas, a parada é na praça Santos Dumont, no Baixo Gávea. Em qualquer uma delas, a dica para quem quer encontrar o espaço bonito, bem arrumado e com muita variedade, é chegar cedo. Se a intenção é economizar, deixe para ir mais perto do final, no horário que ficou conhecido como “Hora da Xepa”.

A feira favorita do DJ Rodrigo Penna é a da Frei Leandro, aos sábados. Ele chega a ir duas vezes, uma bem cedinho para comprar peixe, voltando mais tarde para todo o resto: “Amo a hora da xepa! Antigamente, a feira da Lineu era mais cara, agora isso inverteu”, avalia ele, que indica as flores do André e Saulo, que montam sua barraca às quartas, na Maria Eugênia, e aos sábados na Frei Leandro.

– O que mais vendemos são flor do campo, gérbera e girassol – afirma Saulo da Silva, de 39 anos, florista há 21.

Na mesma feira ainda é possível encontrar a flor esponja, que só floresce de maio a outubro. A espécime é plantada e vendida por Dino César, de 40 anos, que há 20 monta sua banca na feira da Frei Leandro. Fora do período de floração, ele trabalha na construção civil.

O florista Saulo

 

Dino César e suas flores esponja 

A mesma feira é frequentada pela sócia do Atelier Jaeger, Regina Kato. Suas dicas são o vendedor de ovos orgânicos, caipiras, ao lado da barraca do ‘Grande’, que vende frutas e legumes no trecho mais perto da rua Alexandre Ferreira e sempre coloca uma caixa de som com playlists que vão de U2 à MPB. Regina gosta de comprar do próprio produtor e não abre mão das bananas orgânicas que Antônio Alves traz de seu sítio em Guaratiba. Um dos feirantes mais antigos e atuantes na região, ele trabalha também nas feiras do Humaitá e da Lineu. Com 49 anos, ele começou a trabalhar quando tinha apenas 8 anos: “Antes só vendia banana, mas abri para outras frutas e legumes”, explica ele, que além dos produtos de hortifrúti, fornece barracas para os colegas de profissão.

Antônio e suas bananas orgânicas 

A feira da rua Maria Eugênia é das mais antigas da região e atrai gente de todas as idades. Yara Albuquerque, de 5 anos, nasceu ali e está sempre disposta a comer uma tapioca na barraca da Sandrinha, junto com os colegas da escola, que fica na mesma rua; ou comprar as bananas da Nilva.

O casal João Mourão e Marilu Campos mora há três meses na mesma rua e, apesar de ainda estar conhecendo as barracas, já elegeu a de Claudio Silva como a melhor para comprar frutas: “A gente descobriu por acaso e acabamos passando a tomar o café da manhã aqui nas frutas, muito mais saudável do que na barraca do pastel”, afirma João.  Entre um pedaço de manga e um pêssego, Marilu lembra que a feira ganhou uma importância na rotina da casa, e o ritual conta agora com mais uma integrante: a diarista Cláudia, que vai com o casal escolher as frutas e os legumes: “Ela é a nossa consultora gastronômica e sempre escolhe o melhor. Tanto que mudamos o dia dela para quarta justamente para aproveitarmos melhor o seu conhecimento”, atesta a jovem.

Às quartas, o café da manhã do casal João e Marilu é na barraca de frutas.

No Horto, a pequena feira da rua Abreu Fialho parece recente, mas existe há mais de 20 anos: “Ela ia até o final da rua, mas, aos poucos, foi encolhendo e só conta com estas poucas barracas”, afirma Roberto Fonseca da Silva, do Horto Natureza. Morador da região desde que nasceu, há 45 anos, Beto, como é conhecido, bate ponto ali todas as quartas. Suas barracas favoritas são a do Pastel da Família, que começou a funcionar no local há quatro meses, e a do Luiz, um dos feirantes mais antigos, vendedor de bananas.

Às quartas também acontece a feira junto à Igreja Santa Margarida Maria, frequentada até por turistas. Ali faz sucesso um sistema de comanda, criado há mais de 20 anos:

– O sistema de comanda facilitou muito a vida dos clientes e dos feirantes. Antigamente era complicado ter que pagar em cada barraca, passar cartão ou cheque. Agora não, o cliente pega o papel, vai fazendo as compras e paga só no final. Facilidade, modernidade, muito bom mesmo – atesta Valteci Alves, mais conhecido como Valter, da barraca de legumes.

Feira também pode ser um programa bom para cachorro. É o que diz a jornalista e produtora cultural Cristina Dória: “Meu amigo Ney, vendedor de coco, sempre dá água para o Chico, além de abrir a fruta para ele ficar roendo”, conta. Cristina tem cartão fidelidade da barraca de tapioca: “É de uma família animada, que está sempre cantando e fazendo piada”.

Valter usa o sistema de comanda.

A feira do BG também é frequentada pela turma do estúdio Casa de Pedra, já freguesa da barraca do Armazém do Campo – Rio, que revende os alimentos agroecológicos produzidos nos assentamentos do MST. “Independente de você compartilhar ou não dos mesmos ideais, é bom poder aproveitar os produtos sem agrotóxicos e com distribuição sustentável, que dão preferência para a venda e consumo dos produtos na mesma região de cultivo”, afirma a coreógrafa Esther Weitzman.

📷 Chris Martins

1 Comentário

  1. Rita de Cássia pinto da silva

    Dino César, vende essas flores desde criança, é uma tradição de família, meu pai, meus tios e hj meu irmão, elas são a queridinhas das madames, elas amam a flor esponja de ouro, coisa mas linda. O sonho do Dino era ter a sua própria barraquinha na feira. Mas Sei que Deus vai ajudar.

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